sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O PREÇO DA VITÓRIA

O êxito dos imigrantes que conseguiram fazer fortuna teve seu preço, que para muitos foi a saúde, ou um longo período de privações, coisas comuns entre os imigrantes de todas as nacionalidades. Enquanto pensavam em voltar, todos os sacrifícios eram aceitos para economizar.
Economizar era uma obsessão, de consequências pouco sadia, para as próprias condições de vida.
Para muitos o retorno representava uma necessidade de afirmação pessoal. O fato de não se ter conseguido viver e vencer na terra natal onde muitos viviam bem, os teria feito partir com um complexo de inferioridade do qual só se sentiriam libertados através de uma volta triunfal. Daí surgia aquilo que costumava-se descrever como o "desejo de exibir aos conhecidos a riqueza que conquistaram e de desforrar-se dos antigos patrões". Porém nem todos souberam ou puderam sublimar esse complexo, ou resistir ao chamado da nostalgia e da família.
Contudo, em anos de lutas, em sua Pátria adotiva muitas vezes sem vitória, os imigrantes italianos construiram novas colônias, futuras cidades, ergueram templos, plantaram indústrias, semearam tradições, danças usos e costumes. Trouxeram o hábito de beber vinho, o gosto pelo galeto, pela polenta, pela música, pelo macarrão, e das picadas e travessões surgiram, como por encanto, a princípio, os lugarejos, depois as vilas, mais tarde as cidades, construídas com o sacrifício e a determinação dos colonos imigrantes que fizeram desta terra a sua Pátria.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

RELIGIÃO E CANTO


A religião católica foi, sem dúvida, a força para permitir aos imigrantes italianos se integrarem no novo ambiente e formar aquela solidariedade indispensável para enfrentar todas as dificuldades materiais e psicológicas dos primeiros tempos. Eles não tinham um espírito de associação, uma consciência étnica ou nacionalista capaz de os unir ou motivar a solidariedade. Foi em torno da religião e da expressão de seus sentimentos religiosos que eles encontraram a própria identidade cultural.
As crônicas e descrições feitas sobre a vida religiosa e social das colônias italianas do Rio Grande do Sul traçam, em cores vivas, a extraordinária participação dos colonos nas celebrações religiosas e o espetáculo que ofereciam os domingos das colônias italianas.
O espetáculo tomava um caráter mais alegre nas festas patronais, chamadas "sagras".
Mas, o que mais caracterizava as festas nas colônias italianas e mesmo a vida de todos os dias, era o canto. Os imigrantes e a primeira geração viviam cantando, em todos os lugares e em todas as circunstâncias.
Cantavam os homens, as mulheres e as crianças. Cantavam no trabalho, na igreja, nas festas, nas estradas e em casa. Cada família era um coral.
Este magnífico folclore composto de canções de amor, de guerra, de operetas, canções burlescas, nostálgicas, romanticas, conservando-se vivo até a segunda guerra, quando as línguas estrangeiras foram proibidas no Brasil. A juventude de pós-guerra esqueceu muitas destas canções e, sobretudo, perdeu-se o caráter festivo dos primeiros imigrantes.
O canto nas colônias italianas do Rio Grande do Sul foi, não somente um paliativo ao sofrimento e a saudade, mas a expressão coletiva da identidade cultural.
No canto como na religião, o italiano reencontrava o seu passado característico, sua alma vibrante e expansiva, sendo estes fatores determinantes para a sua integração em terras gaúchas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

CANÇÕES POPULARES

Na zona rural da região de colonização italiana, nenhuma festa é completa se não houver cantoria e cantar muito. O italiano e seu descendente, neste particular, mesmo ambientando-se no novo meio, mantiveram tradições mais seguras e firmes, embora, com o advento do rádio e televisão, grande parte de seu repertório esteja quase esquecido.
Um churrasco regado a vinho, termina em cantoria. Casamento termina em cantoria. Festa grande termina em cantoria.
Há anos, era bastante comum ouvir nas roças durante o trabalho os membros de uma família a cantar. A vindima, é uma época para boas canções, embora se deva observar que muito perdemos nesse sentido.
Desde o tempo da imigração nas regiões de colonização, formam-se coros a três ou quatro vozes improvisando-se com facilidade, e, embora a música não seja tão artística, a melodia e harmonia em grupos de cantores reunidos de último momento, são boas.
De um modo geral, uma pessoa faz parte do "primo", isto é, sustenta a nota enquanto os demais cantam de "secondi" e "bassi". Para cantar bem, todos afirmam, é preciso purificar a garganta com vinho...
O italiano trouxe suas canções de uso diário.
Trasmitindo-as oralmente aos seus descendentes, de modo que sofreram as mais diversas influências, quer na melodia, quer na letra. Canções trazidas pelos cremoneses, foram cantadas por vênetos, que tiveram a pronúncia das palavras alteradas. Canções tirolesas sofreram o mesmo processo, pois a separação que existia naItália entre as diversas províncias, aqui pouco perdurou.
Pode-se afirmar que a maioria absoluta das canções cantadas pelos imigrantes e seus descendentes, são provenientes da Itália. Criações novas e tipicamente regionais existem, mas de um modo geral não se impuseram a todas as regiões de colonização italiana.
As canções populares herdadas dos imigrantes, são frutos da diluição da cultura desses desbravadores, na marcha de integração completa na comunidade nacional.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

DO ITÁLICO BERÇO À NOVA PÁTRIA BRASILEIRA


MURAL DE ALDO LOCATELLI - medindo 30,8m de extensão
por 2,27m de altura, o mural retrata os imigrantesem seus pri-
meiros anos na região de Caxias do Sul.
Ele foi parcialmente destruído em um incêndio em 1992, e res-
taurado em 1999.

O BODEGUEIRO

O negociante ou bodegueiro, foi outro elemento importante na estrutura das comunidades coloniais, da imigração. Foi um segundo líder e, em muitos casos o principal aglutinador da sociedade local.
Ao lado de todas as igrejas e capelas estabelecia-se a venda, a casa de comércio, na qual os colonos encontravam tudo o que precisavam, desde os mais variados xaropes atés os tecidos mais finos. Os imigrantes dependiam, economicamente do comerciante, pois era ele que compravae negociava seus produtos e era o único fornecedor de artigos de comércio.
Os colonos compravam geralmente a prazo e o acerto era feito na hora da venda do produto colonial. Além disso, o comerciante era a única pessoa que, uma ou duas vezes por ano empreendia uma viagem até a cidade e mesmo até a capital, onde, além de seus negócios particulares, atendia os pedidos dos colonos: visitar um familiar hospitalizado, resolver problemas de títulos, etc...
A venda era, também, o banco local que emprestava ou adiantava dinheiro ao colono quando este tinha que operar a mulher, filho, comprar alguma terra a vista, que recebia em depósito, o dinheiro dos colonos.
Não existem lugares de colonização em que não tenha havido falência de tais bancos, perdendo os colonos as vezes todas as suas economias.
A venda era uma espécie de parlamento rural, onde os colonos discutiam tudo o que acontecia na sociedade local. Na bodega chegavam todas as notícias, as novidades e tudo era comentado, e analisado pelos colonos. O viajante que percorria as linhas coloniais vendendo seus produtos era um elemento importantíssimo na transmissão de idéias, notícias e novidades, em conjunto com o negociante, que foi um dos elos de ligação entre os imigrantes,colonos, buscando integrarem-se aos novos modos de vida, em terras desconhecidas.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

BARRACÃO DOS IMIGRANTES


Após a chegada em nossa cidade, os imigrantes eram conduzidos e alojados em um barracão, a espera da demarcação e designação de seus lotes coloniais, local onde permaneciam dias e até meses.
Era comum observar-se entre os habitantes do barracão principalmente as moças, o apuro no trajar, os melhores vestidos que usavam, o calçado e adornos eram postos; as mocinhas passeavam em grupos pelas picadas que eram nossas ruas procurando amizades entre as famílias radicadas.
Via-se entre as pessoas moças e idosas a diferença entre o vestir e o falar, a cultura, o trato social de cada grupo ou família, a diferença marcante de sua procedência.
Chegado o dia da partida essas pessoas, que muitas vezes haviam passado meses no barracão, debilitadas devido a precariedade da alimentação, seguiam esperançosas para a terra que o Governo lhes destinava. Saiam para as matas conduzidas em grandes carroções, levando uma grande esperança.
Era muito triste e deprimente para aqueles que presenciaram a chegada em nossa cidade, desses imigrantes,viajantes em uma aventura rumo ao desconhecido,viver no meio da mata, viver no desconforto, enfrentar uma natureza que eles não conheciam.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

USOS E COSTUMES

Os usos e costumes dos imigrantes, expandiram-se inicialmente, com a introdução em suas regiões de pratos de tradição, com a adaptação de hábitos alimentares trazidos da Itália aos produtos locais e às necessidades econômicas enfrentadas em sua nova terra.
Trouxeram-nos, o imigrante italiano e caiu no gosto dos brasileiros a polenta, a sopa de "agnolini", a "fortaia"(omelete com queijo e muitas vezes linguiça), o "bígoli", o "risoto" e o frango "al mena rosto". Também nos legaram ogosto pela salada de "radici", devidamente temperada com "lardo"(toucinho frito na hora), o galeto e o vinho.
Destaca-se a capela como elemento culturalmente relevante, pois com finalidade principal de centralizar o culto religioso, foi também o centro das atividades sociais das comunidades. Pois, ali reuniam-se os colonos, como ainda hoje o fazem aos sábados e domingos, para rezar, jogar bochas, baralho ou conversar.
Era na comunidade da capela que iniciavam-se os namoros, formavam-se os grupos de cantorias, desfilava-se a roupa nova, e encontrava-se os amigos ou parentes de outras travessões ou linhas.
Desse intercâmbio trazido pelos imigrantes e passado aos seus descendentes em conjunto com os habitantes do Rio Grande doSul, houve uma assimilação e integração e os imigrantes, bem como seus descendentes passaram a usar o chapéu de abas largas, olenço no pescoço, e a consumir o pinhão, a batata doce, o aipim, o churrasco e o chimarrão.
Vemos, hoje, os usos e costumes da colonia italiana, como resultado de uma aculturação que se processou lentamente , desde a chegada dos primeiros imigrantes nas primeiras décadas e que se acelerou a partir de 1950, chegando aos nossos dias.